sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sindyclayde e Rosa Maria: as mais populares do quarteirão

Fui “voyerizar” o que as mulheres gostariam que fizessem com elas na cama. A segunda temporada de Devassas, peça que marca os 15 anos de carreira da atriz alagoana Ivana Iza, virou um fetiche tão curioso em Maceió que pecado seria não provar da maçã que seduziu até as mais puritanas castas alagoanas não assíduas do teatro local.

A primeira visão excita logo na chegada ao teatro com a fila de espectadores. Grande. Enorme. Homens e mulheres balançam seus ingressos na mão, na expectativa de penetrar a sala escura do teatro antes de as portas, pontualmente, serem fechadas. Situações como essa são inéditas quando estamos falando da maior parte do público consumidor de programação cultural na cidade que não tem o hábito de sair de casa para assistir a espetáculos produzidos e encenados por artistas da casa; geralmente por desconhecer o movimento local de grupos, artistas e produções, ou mesmo por um preconceito incrustado em relação ao que é feito na própria terra. Mas uma coisa está ligada a outra. O desconhecimento gera o preconceito e vice-versa. E esta cultura por sua vez é alimentada pela falta de políticas de incentivo à produção e à valorização das artes locais.

Mas o sucesso de Devassas, tão contagiante quanto o seu marketing viral nas redes sociais da internet, fez do espetáculo um dos maiores formadores de plateia de teatro em Maceió, da casa para a casa, como não se via, acho, desde A Farinhada (1997), peça escrita pelo sociólogo alagoano Luiz Sávio de Almeida, encenada pela Associação Teatral Joana Gajuru e dirigida por René Guerra. O espetáculo, que também foi sucesso absoluto entre o público local e premiado em diversos festivais nacionais, contou com o envolvimento de alguns dos mesmos realizadores de Devassas, como o diretor Flávio Rabelo, o gerente de produção Eris Maximiano e a própria Ivana Iza, que atuou nos últimos anos de vida da peça.

De um lado, em A Farinhada, a história de Rosa Maria: a jovem que sobrevive a duras penas trabalhando em regime de exploração numa casa de farinha, situada na zona rural alagoana. Rosa vê seu romance com o jovem companheiro de sina, Pedro Bom, ser tragicamente encerrado após ter sido violentada sexualmente pelo patrão, que, não satisfeito, mata o mocinho num duelo de vingança.

Do outro lado, em Devassas, a história de SindyClayde: a vendedora de potes de plástico com tampas mistas que garante às mulheres uma vida mais “saudável, organizada, arrumada e acondicionada” através dos ensinamentos de sua finada mentora na arte de não deixar que as coisas e a vida se estraguem. Displicente e bastante comunicativa, Si, como sugere ser chamada, revela sem papas na língua para a plateia de “clientes-amigas” e seus respectivos parceiros a divertida e despudorada trajetória de suas experiências sexuais, distribuídas entre as quatro personagens interpretadas por Ivana, que está sozinha em cena durante todo o espetáculo; exceto nos momentos em que a presença de outros se dá pelas ótimas interações audiovisuais e com o público.

Rosa Maria termina a vida na velhice, vagando pela própria loucura, alimentando a lembrança do amor interrompido pela opressão masculina. Já SindyClayde propõe, logo no início do espetáculo, um juramento coletivo entre as clientes-amigas para que não se abstenham do direito de atingir vários orgasmos numa mesma noite.

Abordada em contextos completamente diferentes, a sexualidade feminina é um ponto em comum nos conflitos das duas peças. Se no primeiro sucesso o público foi chamado a se deparar com o lado obscuro do tema, ambientado num universo de tradições patriarcais não tão distantes do que herdamos daquela realidade, no sucesso mais recente o público é seduzido para virar cúmplice dos mais lascivos desejos e posturas sexuais de mulheres em busca do prazer geral da nação. Da nação heterossexual. Com a quantidade de tabus satirizados em uma hora e meia envolvente de peça, a devassa lésbica ficou de fora. Mas sem qualquer sentido discriminatório. O recorte da dramaturgia, escrita por Ivana, quer apenas estabelecer um olhar mais atento e libidinoso entre os sexos opostos que se atraem mas se retraem no meio de tanta repressão que permeia o assunto e a prática do sexo.

Em cena, Ivana está com tudo. Vive o auge das admirações que provoca nos palcos desde atuações como em Fulaninha e Dona Coisa (2001, direção de René Guerra), Versos de um Lambe Sola (2007, direção de Eris Maximiano), entre outros ótimos trabalhos dos quais participou. Além do texto, Ivana também assina em Devassas a concepção de figurinos e cenário sem deixar a desejar na estética e na praticidade das composições. Segue bem acompanhada com a participação de artistas como o músico e produtor musical Pedro Ivo Euzébio (Tup) na criação da trilha sonora, e o diretor, ator, performer e pesquisador Flávio Rabelo, responsável pela cuidadosa e criativa regência do monólogo.

Com apenas sete meses de vida, e prestes a encerrar neste próximo fim de semana a sua segunda e arrebatadora temporada, Devassas planeja agora participar da agenda nacional de festivais e apresentar-se em algumas capitais do país. Indícios de que a popularidade aumentará. Que me perdoe Rosa Maria, mas Sindyclayde já é mesmo um fenômeno arrasa-quarteirão.

Márcia Shoo

Jornalista / Atriz

terça-feira, 24 de maio de 2011

30.000 visualizações de euumadevassa.blogspot.com

          Criamos com muito prazer esse blog para torná-lo o cartão de visita do espetáculo DEVASSAS - O que as mulheres gostariam que fizessem com elas na cama. Nele você encontra informações desde os primeiros ensaios e os muitos momentos Devassos experenciados até a estreia e depois dela também.
        Em outubro 2010 o blog completou cinco meses e contabilizava 5.478 visualizações. Só no mês de novembro 2010 (mês da estreia), tivemos 6.288 acessos, terminando 2010 com quase 15.000 visitantes. Agora em abril foram 6.848 deliciosas e bem vindas espiadas em nosso blog.
       Celebramos a marca de 30.000 visualizações e agradecemos a sua visita, comentários, indicações e carinho.
          Tem sido delicioso e vai ser ainda mais!

Obrigada e um beijo carinhoso à tod@s.

Ivana Iza

Cheiro bom do sereno da manhã

Creio que a dramaturgia alagoana por ser sazonal e soluçante... sempre carece de espanadas e sopros ! Estímulos prementes para uma produção mais efetiva que, decerto, garantirá um reconhecimento ou credibilidade por parte dos encenadores, atores e público. Felizmente que nesse horizonte, de magistral calmaria, nosso vento nordeste embalou com mais furor as palmas de nossos coqueiros, levantou poeira, retirou argueiros, aclarou ideias e permitiu que o bem te vi cantasse com mais clangor! E, com tal acontecimento, o resultado é o surgimento de mais uma ferramenta na oficina de carpintaria teatral maceioense. O que nos deixa com uma sensação de leveza, como estar em balanço de rede em alpendre e a sentir o “cheiro bom do sereno da manhã”!
Não é função do dramaturgo a criação de uma peça, apenas, como literatura. Observação que se percebe na escrita de “Devassas”, porque suas personagens fazem as palavras dependerem delas. E não inversamente, deixando as personagens à mercê das palavras. “Devassas” se mostra em extrema e intensa interação emocional com a platéia, advinda de sua escrita. Uma contemporaneidade na construção de uma dramaturgia sem esquecimento dos cânones tradicionais e consagrados. Uma inteligente reinvenção que não deixa de privilegiar a palavra, o gesto, o ritmo e o tempo. Uma demonstração de que o texto dramatúrgico deverá ter como escopo a reprodução dos diálogos sociais com suas aspirações, sonhos e esperanças. Uma comédia bem elaborada e absolutamente atual que instiga o riso, que é a melhor forma de castigar a falsa moral –“castigat ridendo mores” – enquanto propõe a definitiva emancipação sexual feminina. Afinal a mulher não é caudatário do homem e não há mais tempo nem espaço para o ranço de conceitos judaicos cristãos. A mulher não é pior que a morte e tem alma! Chega e basta de Eclesiastes e Concílio de Trento !
Sindeclyde e suas companheiras me fazem lembrar de Lisístrata a promover uma greve de sexo. Sinde, com suas caixinhas plásticas, me acena com uma atual e divertida reinvenção de Pandora. Anula, dessa criação de Zeus, a pecha que lhe impuseram de responsável por tirar de uma caixa e deitar ao mundo, todos os males e infortúnios. E confirma vigorosamente que o maior legado de Pandora, é a crença na esperança. Sindeclyde, Amanda Kelly e Carmem se mostram como metáfora de força, verdade, beleza,liberdade,esperança... E não como forças do mal e da vulgaridade.
Ivana, a querida e consagrada atriz, mais uma vez se mostra absoluta e surpreende a todos como dramaturga laureada. Esse seu sincrônico exercício como autora e atriz, remete ao recurso “Deus ex machina” do teatro de Eurípedes onde, ao final do espetáculo, os deuses desciam numa “machina tractoria” para solucionar problemas . Haja vista que nas comédias, uma de suas características, se encaminha um final feliz para a “fala do pano”. Porém a solução que a autora-atriz determina, mais simples e funcional, é estar só em cena exorcizando problemas com um riso inteligente por ter a falsa aparência de vulgar e alvar. Em “Devassas” soluções são encontradas e continuadamente exibidas com graça.
Bem escolhido e bem urdido o fio das palavras, que formam frases e que levam a uma sequência de muitas possibilidades para a construção das cenas. Deixando bem aclarado que as figuras de autora e atriz se conjugam harmoniosamente com a direção. A propósito... que graça a aparição do diretor Flávio Rabelo, à guisa de um Alfred Hitchcock caeté.
Com “Devassas” se confirma que ninguém carece de saberes em excesso. Carecemos, apenas, do essencial. Mas disso Ivana sabe, pois sabe ser do teatro. Nossa estrela múltipla, com seu “fulgor de leone”, tudo pode pois sua ousadia tem bagagem, talento, poder e magia !

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Homero Cavalcante
Dramaturgo e Professor de Interpretação do Curso de Licenciatura em Teatro
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
22.05.2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Agradecimento pelas doações

Querid@s,

Não posso deixar de agradecer mais uma vez e mandar um abraço carinhoso para todos vocês que atenderam ao meu convite e colaboraram para a arrecadação de agasalhos.
Ao todo foram 92 entre calças, lençois, camisas de manga comprida e casacos.
Serão entregues aos moradores de rua com toda a generosidade e carinho com que foram doados.

Beijos e abraços
Ivana Iza