segunda-feira, 4 de outubro de 2010

a provocação como base:

Minha relação com “Devassas” começou muito antes de me tornar o diretor do espetáculo; e o que mais me atraiu ao processo foi exatamente ver de perto Ivana se desafiando enquanto artista. Assumi meu lugar como o observador privilegiado nesta travessia; jogando como um provocador cênico, criando aberturas de espaços e instabilidades criativas. Tudo em função do que o próprio processo foi nos revelando. Não sabia ao certo onde a gente poderia chegar, e nem tinha nada pronto ou pré-concebido. Cheguei para olhar e provocar. E este olhar ao qual me refiro é um olhar que deve ultrapassar os limites do visível, e ser capaz de ver mesmo o que o corpo em ação ainda quer esconder. Volto a dizer: é o olhar das dúvidas e inquietações; é um olhar que escava e desafia. No texto de Ivana fui me seduzindo pelo paradoxo entre o assunto tratado e a abordagem que é feita sobre ele. O assunto é absolutamente feminino (e por isso mesmo tão atraente para os homens), mas a abordagem é um tanto quanto masculina, por vezes até fria, racional demais, assumindo a necessidade implícita de certo didatismo quando estamos falando sobre sexualidade e prazer. Em cena tratamos este paradoxo ora destacando ora diluindo sua existência. Algo entre um bom papo de amigas e uma aula-desabafo-alerta. Tomamos este paradoxo como base para compor as ações, as imagens e o comportamento de cada 'persona devassa' apresentada pelo texto. Como num jogo no qual ninguém disputa nada e o que importa é o próprio prazer de jogar. Ou, como quando estamos despidos junto a outro corpo e ambos querem a felicidade e o gozo.

Flávio Rabelo.


(trecho do texto para o  material gráfico)

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