segunda-feira, 6 de setembro de 2010

tempo-espaço; ou, cheguei pra re-encontrar e desconhecer.

Hoje de madrugada, finalmente cheguei em Maceió para iniciar a parte presencial do processo de criação e ensaios com a Ivana para o projeto "Devassas". Enfim, mudamos de fase - desde o final de fevereiro estamos conversando por emails e skipe sobre o processo criativo, num trabalho de 'direção/provocação virtual' mais focado nos ajustes da criação do texto previamente escrito por ela. Por várias razões estou bem animado com este trabalho.


Este projeto traz, em muitas camadas, a energia de um grande re-encontro afetivo. Primeiro porque eu e Ivana somos amigos. Ponto. Isto ja seria suficiente. Mas, somo amigos que se conheceram fazendo teatro e cuja amizade é fruto exatamente das experiências artísticas compartilhadas. Isso torna o re-encontro ainda mais animador; pois, além de re-encontrar a amiga, como o acontecimento se dá no território da arte, estamos juntos para nos re-criarmos. Ou seja, além de re-encontrar Ivana, estarei também e ao mesmo me re-encontrando. E ainda, desconhecendo a Ivana ao passo que me desconheço. Estou colocando em devir mais uma vez o que sou nesta posição de observador privilegiado/crítico que é o direção cênica. 


Este é o primeiro trabalho onde assumo esta posição depois da pesquisa do mestrado e das experiências com o projeto Hotel Medea, juntos com o Zecora Ura Theatre. Então, é a hora de perceber o que estas últimas experiências fizeram com meu olhar, com a minha escuta e com meu senso de composição. Semana passada, estava conversando com uma amiga que também mora em Campinas (a atriz/performer e pesquisadora Ludmilla Catanheira) que todo a abstração conceitual que entramos em contato na Academia só faz 'sentido' em ação criativa. Claro que pensar também é agir e toda a leitura/escrita também é criação; mas parece que há uma 'fome' que só 'saciamos' quando estamos suando nos ensaios/apresentações. 


Por outro lado, este projeto também me re-aproxima do teatro - tanto enquanto linguagem, quanto estrutura física mesmo. Por mais que eu não tenha me afastado intimamente dele, nos últimos anos, meu processo de criação ocorreu mais em performance art e intervenções públicas realizadas em ruas, galpões, casas. E mesmo quando estava mais visivelmente próximo do teatro, como em Hotel Medea, estava agindo numa zona de fronteira com as artes visuais, dança, webart e vídeoart. 


Em "Devassas", eu tenho um palco italiano pequeno e um texto previamente escrito por uma atriz-comediante-figurinista-cenógrafa. Claro que não vejo problema algum nisso, muito pelo contrário, estou bem excitado (pra ficar no 'assunto' do projeto) com a chance de usar a famosa caixa preta e de ter texto-figurinos-cenários previamente criados. Mas, claro também, que não posso negar o que vivi nos últimos anos. E também e até mesmo pelo fato de todos estes materiais já criados até agora terem sido articulados pela Ivana, gosto de observar este processo de criação também do ponto de vista da peformance art. A dramaturgia final, a da cena, será criada nestes próximos dias a partir desta percepção. 


Há ainda o fato de estar de volta trabalhando em Maceió, onde sou colocado neste fluxo constante e intenso de re-encontrar e desconhecer a mim mesmo, pessoas, espaços e situações. A sensação é de viver um período de desterritorialização bem propício para processos criativos. Espero que saiba aproveitar e que "Devassas" continue sendo delicioso de saborear.

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